quarta-feira, 12 de março de 2008

Para Lívia Caldieraro de Souza







Escrevo chovendo achocalhado, chorando...

Escrevo cravado de pedregulhos, ruminando entulhos transpassados...

Escrevo com a certeza ávida e ácida de que (não) escrevo NADA. De que as palavras presas ao papel já nascem manchadas, machucadas, mancas...elas não conseguem transmitir o essencial, só o supérfluo. Tão acalentador supérfluo que super flui tranqüilizado e tranqüilizador por águas trêmulas na super fácil face da superfície.

Não quero o previsível / quero expandir a minha ridícula retina/ quero explosões extáticas de imagens iridescentes, impolutas e impopulares, polpudas de caras, poupadas de censores, desajuizadas e difíceis...

Indeciso, tateio o cinzento da vida. Onde tudo é borrão berrante. Onde nem existe aborrecimentos ou estremecimentos. Onde o caldo capta tudo e promove pacata e esparsa navegação. Tento, tento, tento ... me arrebento de tanto tentar... me racho e sangro sêmen e saio baixo rindo da minha dor. Uma vida costurada de começos sem fim. Assim.
Mas, não desisto.Insisto na minha existência.E dela, faço tudo de ensaio turbulento , no qual experimento e minto e chego à rareadas conclusões , porque penso que conclusões (de)limitadas, contorcidas e contornadas não servem pra nada.

Pelo menos, não pra mim.

As finalidades das coisas, das ideologias,por exemplo, nunca chegam a ser executadas. Sofrem deformações profundas – e à medida que se aprofundam essas deformações –ficam de faces transmudadas, transfiguradas.

O mesmo não acontece com os começos. Os começos têm a iluminação e força penetrante dos cometas. Os começos são sinceros e puros em seus passos despistados e titubeantes. Os começos são despreocupados e são ... simplesmente... Com uma pureza sem vincos nem brincos. Começam sem vaias ou aplausos, com úmida humildade vívida e não-pálida. Os começos são de torções tensamente torturadas de cores promiscuamente arranjadas. Os começos na vida –os ensaios da vida – têm a liberdade de não serem servos de Nada... de servirem ao instante que foge em instantânea fuga.

Um comentário:

Unknown disse...

Corremos incessantemente, ó vento
poupe-me de suas lágrimas
o amargo, a que ele expõem a seus dentes
Afia-se e a corta em mil pedaços. Seleciona
caindo
e amanhece
devagar.
Ó silêncio, que abarca o repouso do momento
pega sua magia e desce em espiral
Resplandece as imagens
e pulsa
com seus cacos e suas penas
Alçando a este embarque
És partida e irreverencia
multiplicidade da visão de um prisma.