sexta-feira, 7 de março de 2008

excerto de julho de 2006

Paro e penso. E não consigo manter-me ereto, sustentado, envolto nessa corrente sufocante de angústia que me prende pelos pulsos.
Em meu monólogo diário, já nem sei se o que eu falo, essa voz -provavelmente minha- que escuto, se tudo isso nasceu de mim... ou se isso é só uma parte dos outros- o hino humano-meramente repetido, como um ritual tradicional executado exaustivamente sem o menor questionamento, hesitação ou raciocínio... são os outros- quais ? tantos? todos? desde quando isso teve início? -quem torpemente me possui o corpo e me faz ínfimo fantoche, ventríloquo risível ?

Queria poderer farejar, identificar onde me prendem essas invisíveis amarras que tem me impedido de ser eu mesmo... nem mesmo sozinho, o encontro desejado... essas palavras que falo, até que ponto se separam das coisas que li, dos antepassados, do míssero senso-comum? Porque , apesar do tempo estar passando, minha escravizada mente não se rebela? Pelo contrário, permanece serva humilhada... fielmente submissa... amordaçada perpétuamente...

Esse inimigo que me oprime já teve muitos nomes, muitas formas, já foi uma pessoa, um ideal, uma corrente filosófica... mas essas definições são parcamente ridículas...soluções provisórias que se arrebentam ao menor sopro...

As mentiras- tranquilizadoras tem me perturbado, porque, enfim, decidi me aventurar na busca por respostas... E o que encontra quem se arrisca a tal empreitada? Mais e mais perguntas, uma cascata violenta de perguntas, perguntas proliferando-se como coelhos inquietos e anárquicos...

Não que eu queira a tranquilidade.

Não quero ? !

Claro que quero.

Mas.

Uma outra tranquilidade (quiçá intranquila). Não essa de uma vida superficial, epidérmica, qm eu todas as ações sejam escrupulosamente regradas pelo o que a coletividade ordena. Isso é mediocridade. Isso é monitonia. E isso, eu não quero.

E nem é por rebeldia. Antes fosse isso: rebeldia vazia, rebeldia retórica. Não é isso. É apenas uma questão de aceitaçã da minha natureza- coisa dificultada por mim mesmo muito mais do que pelos outros- tão retardada e adiada, disfarçada sob incontáveis disfarces vestidos em diferentes momentos da minha vida.

Sim, esses disfarces que tanto me faziam rir e chorar, que eram armas disponíveis da minha defesa indefensável meus hálibes imperfeitos, foram eles que me confundiram, feriram, e não protegeram como o pretendido... Idiotamente, eu acreditava que eles me davam superpoderese me transformavam ou defendiam como um pedaço distinto da vulgaridade do mundo que sempre me incomodava profundamente. O que eu nem sequer desconfiei, ingênuo que fui, era que ao adotar essa prática cotidiana- eu me aproximava e não me distanciava da vulgaridade de toda a gente.

Claro que me viciei nisso. Agora não consigo manter-me abstêmio. Pode ser que isso seja um traço inato- inerente irrevogavelmente na espécie humanae eu, nessa busca pela Verdade, esteja apenas querendo negar a humanidade presente em mim.

Não consigo mapear o contorno da minha alma, ela se esvai... talvez tenha medo de se mostrar selvagem, animalesca, impura...

Por isso, passo tantas horas em solilóquio, porque quero ver (uma vez ao menos) quem eu sou de verdade, sem artificialidades, sem proteções, sem pudores... você já tentou isso?

[...] Tudo o que fazem é repetir clichês, frases feitas, respeitar os paradigmas impostos. E onde fica o humanismo da humanidade ? Sua capacidade de sentir pelas próprias forças, de colar com garra as garras nessa coisa líquida, incerta, que é a vida ? [...]

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