sábado, 29 de março de 2008

sexta-feira, 28 de março de 2008

Sacas ? Óbvias Curtas

Incoercível: como um espirro ou o vômito.

O abstrato também é concreto, nunca foi o seu contrário.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Aonde?

Agora.

terça-feira, 25 de março de 2008

é madrugada e o silêncio é grosso. minhas vozes divergem, divertindo-se sardônicas.

dentro de mim, queimo. metáfora barata, brasas vivas. pulso arquejante.

imagens sobrepõem -se em planos irracionais; elastificando dimensões. Extratificando sensações.


aceso. estrondo. vertigem desvirginada.


caem as tuas palavras me roendo. inarticulo-me. emito grunhidos.

através dos desmascaramentos descarados, de viés te enxergo. Quero é isso: viver em ti, de esguelha.


não como um motivo; antes um pedido- que -não-fez- que - não -se faz.


cerveja e cigarro. me agarro em cheiros. lembrados.

minha imaginação é suficiente para eu viver? eu que não tenho medo de admitir realidades. Visto-me da coragem gestada pela minha crucial covardia- pois sem ela nem aqui vivo eu estaria.

os flertes com os sonhos. é com uma lucidez alucinadamente louca que digo que reconheço que estou aquém de mim. caí em um buraco , em meio ao mar. a correnteza me leva para a asfixia. é delicioso morrer. o sal me solidifica.

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sabe uma ressaca? sim.

Verto em versões, inversões. Divirto-me. desvirtuoso que sou.

A tua nuca me enternece. E mesmo presente, é sempre passado. é já saudade.



e temor.



horror?



é tudo tão invasivamente belo. é uma vagina inseminada, a vida.


às vezes ocorre a fecundação.


nem sempre.


é necessário ternura e arrogância, complemetando-se. sempre o jogo dos contrários se contraindo. nirvana nevrálgica.

tem também uma certa dureza de esboço desenhada em ti. uma inteligência atormentada. Machucaria a mim mesmo milhares de vezes antes de escolher ferir-te. ( não é romantismo, é certeza. Mesmo num universo ondulante de incertezas? ainda que eu saiba da relatividade e volatilidade de todas as coisas, afirmo uma certeza - finita, como todas as certezas; mas plena - porque devorei, sorvi a transgressão e inchei.


.............


retraio-me entre os lençóis e travesseiro. meu corpo arde. morde. sou estuprado por ele.

ingênuo te falo com o verdadeiro de mim. sem eu-lírico. Não. A linguagem corporifica o que não é dito. Então é simbólica.

é preciso tempo para viver sossegado. E estou apaixonado.


sou desconexo ?

sou sexo. mente.

não consigo restituir-me sem rir de mim mesmo.

não aceito mais a beleza fria. Quero o inferno da lucidez aludida.


ou as ilusões renovadas. Não-vencidas. Bandidas, drogadas.


uma vez ouvi, ela dizer com um copo na mão: " Ela é nossa única amiga".


zonzeado em mim, recheado de sons externos e internos, enxerguei-a com complacente empatia. ela bebia das paixões do quase-vício, da quase-vida.
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- eu tenho sangue demais nas veias. sou dos sanguíneos. Nunca mais vou me resfriar.


desteço fios imaginários. estou preso. eu que nasci algemado e,com os próprios dentes, feito garras, roí os punhos. A mutilação foi meio/ instrumento de ação. trágico? como eu poderia duvidar, se nasci com o gérmen da fatalidade. Incorro em hybris interiorizada. E gemo pathos.

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basto, vasto. vejo. miro.

--- penso nas pedras duras, tão rígidas dor muros- direito de propriedade ? - invadidas por tão maleáveis plantas trepadeiras. com sua estrutura de fibra vegetal, fazem um estrago.

perco a prosa-poética. vês?


.......


exorcizei-me neste instante.acalmei-me. parece que não vou resistir a mais uma dessas noites. Pois noite escurece o dia. A noite é sempre um passo adiante da razão.

.........


e o dia é a razão dos loucos. Tenho medo de ti; mas não estou assustado. ardoardoardoardoardo.

Água -viva

" Senti-me então como se eu fosse um tigre com flecha mortal cravada na carne e que estivesse rondando devagar as pessoas medrosas para descobrir quem teria coragem de aproximar-se e tirar-lhe a dor. E então há a pessoa corajosa que sabe que tigre ferido é tão perigoso como criança e aproximando-se da fera, sem medo de tocá-la, arranca a flecha fincada."


Clarice Lispector .

impotência

Ela disse:

"Minha alegria fugiu de mim!"


e não pude fazer nada.

domingo, 23 de março de 2008

"Sou apenas um velho pedaço de carvão, mas um dia serei um diamante".







dario robleto

Amor eterno

Amentiraquesefezverdade !

sim .

Vagabundagem ?


Licença poética!

Assim falava Griphon

- As pessoas não mudam... elas apenas aprendem a disfarçar melhor!

sexta-feira, 21 de março de 2008

MODERNISMO BRASILEIRO: UM MOVIMENTO SEM NENHUM CARÁTER

“Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,As sensações renascem de si mesmas sem repouso,Ôh espelhos, ôh Pireneus! Ôh caiçaras!Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!”

“Eu sou trezentos”, Mário de Andrade.







Em “Modernismo Brasileiro e Vanguarda”, Lúcia Helena traça um panorama sobre o movimento modernista brasileiro, demonstrando como a constituição deste recebeu influências das vanguardas européias do início do século XX. Primeiramente, a autora assinala a relevância do contexto histórico para o surgimento das vanguardas: tratava-se de um momento crítico, no qual o mundo ocidental encontrava-se imerso em uma grave crise – período que abarca os eventos geradores da primeira (1914-1918) e segunda (1939-1945) guerras mundiais. Assim, os movimentos vanguardistas são a resposta-produto artístico-cultural de um tempo de grande contestação e inquietação. Por isso, os mais variados movimentos vanguardistas apresentam como ponto convergente o questionamento sobre o legado cultural recebido e a fossilização (ou engessamento) dos padrões de criação artística. Nas palavras de Lúcia Helena, todos concordavam com a falência dos “moldes acadêmicos e conservadores de uma arte envelhecida e cristalizada” (p. 6).

É como eco desta atitude ocidental contestatória que é engendrado o modernismo brasileiro, nascido, efetivamente, como um movimento irreverente e rebelde –na sua fase denominada “heróica”– que visava (entre outras questões) refletir sobre os procedimentos de criação artística e promover a construção de uma feição identitária brasileira – e, com isso, discutir a dependência cultural brasileira em relação à Europa. Segundo a autora, é o nacionalismo um dos principais fatores que permite a visualização da relação existente entre modernismo brasileiro e as vanguardas européias.

Neste sentido, a obra “Macunaíma – o herói sem nenhum caráter”, de Mário de Andrade, pode ser compreendida como simbólica do ideário modernista no Brasil, visto que abrange em termos temáticos e estruturais as principais questões pulsantes que moviam as discussões estéticas tipicamente modernas.

Lúcia Helena observa que o modernismo brasileiro possui características peculiares, posto que se desenvolve em um contexto sócio-histórico-cultural diverso do europeu. Além disso, o fato de ser a sociedade brasileira refratária a mudanças contribuiu para a formação do modernismo como um movimento composto por várias vertentes (dinamistas, primitivistas, nacionalistas, espiritualistas, desvairistas e independentes), o que se percebe claramente por meio da leitura dos manifestos e revistas divulgadores do movimento.

A estrutura da rapsódia de Andrade – que transita por estilos diferentes de narrar (pelo menos três, de acordo com Alfredo Bosi, que identifica um estilo de lenda, épico-lírico; um estilo de crônica, cômico e despachado e um estilo paródico) pode ser entendida como representativa desta ausência de homogeneidade nas idéias e linhas de expressão defendidas e seguidas pelos modernistas brasileiros.

Em termos temáticos, lê-se “Macunaíma – o herói sem nenhum caráter” como uma tentativa de construção da identidade brasileira. Identidade esta formada a partir de enorme multiplicidade cultural e étnica. Macunaíma seria o brasileiro típico “que não possui nenhum caráter”, sendo que caráter aqui não tem exclusivamente uma conotação moral, mas, sim, como descreve Mário em carta enviada a Carlos Drummond de Andrade, compreende uma ausência de características definidas: “[...] com a palavra caráter não determino apenas uma realidade moral, não. O brasileiro não tem caráter porque não possui nem civilização própria nem consciência tradicional”. Percebe-se, portanto a preocupação do autor com a questão da concepção da nacionalidade, traço comum a todas as vanguardas européias.

Esta preocupação se desdobra em muitos sentidos na elaboração de “Macunaíma”, no entanto, é, sobretudo pelo tratamento dado à linguagem, que ela fica mais ressaltada. O reconhecimento e valoração dos elementos culturais (e mesmo regionais) tipicamente brasileiros ganha uma maior expressão pela linguagem. Valorizar a oralidade, ou melhor, criar um discurso narrativo (há marcas de oralidade não apenas na fala das personagens, mas também no discurso do narrador) que se aproxima do falar cotidiano é delinear a existência de um português característico do Brasil, diferente do português de Portugal, ou do português acadêmico ou clássico utilizado até então nas manifestações literárias. Exemplos diversos podem ser encontrados ao longo das páginas, dentre eles: “– Abra a porta pra mim entrar” (p.30); “ Eh! dessa ele nunca poderia esquecer não” [...] (p.37), a negação dupla tipicamente brasileira; “Foi logo perguntando si o gigante era verdade que possuía uma muiraquitã com forma de jacaré” (p.47).

Há, no capítulo IX, intitulado “Carta pras Icamiabas”, uma crítica em tom satírico acerca da distancia entre esses dois níveis da linguagem, o português falado e o escrito:


“Ora sabeis que sua riqueza de expressão intelectual é tão prodigiosa, que falam numa língua e escrevem noutra [...] Nas conversas, utilizam-se os paulistanos dum linguajar bárbaro e multifário, crasso de feição e impuro na vernaculidade [...] Mas [...] logo que tomam da pena, se despojam de tanta asperidade, e surge o Homem Latino, de Lineu, exprimindo-se numa outra linguagem, mui próxima da vergiliana [...]”. (p.78)


Além destes aspectos, determinados elementos presentes em “Macunaíma – o herói sem nenhum caráter” podem ser observados como pontos de contato com as vanguardas. A busca pela definição de uma identidade nacional (já apontada anteriormente), a antilógica, a liberdade da imaginação e da linguagem (do futurismo); certo diálogo com o dadaísmo e surrealismo no sentido de que há na obra uma subversão das categorias de tempo, espaço, e ação – que não seguem a lógica racional.

A representação literária do subconsciente – característica do surrealismo – está calcada na criação de “realidades” ilógicas, isto é, que escapam ao pensamento lógico e racional. Aos surrealistas interessa a investigação de temas não explorados por aqueles que os antecederam, tais como: o inconsciente, o maravilhoso, o sonho, a loucura, em outras palavras “tudo que é inverso à tradição da lógica e da racionalidade” (HELENA, p 35). Isto fica evidente, no livro de Mário, no que se refere à construção da personagem principal – visto que ela é extremamente mutável: Macunaíma sofre inúmeras transformações – de criança feia passa a príncipe encantado, depois Imperador do Mato-Virgem, em seguida malandro na cidade de São Paulo, até transformar-se na constelação Ursa Maior (sem falar nas variações raciais, pelas quais passa a personagem).

A subversão espaço-temporal é revelada pela trajetória de Macunaíma feita de várias fugas e percursos ilógicos em busca da sua Muiraquitã. O “herói” percorre lugares bastante distanciados geograficamente em curtos espaços de tempo, o que indica que o escritor não está comprometido com uma representação realística, verossímil. Pelo contrário, estão em cena um tempo e um espaço “mágicos”.

Do mesmo modo que Lúcia Helena considera a vanguarda histórica como “expressão de um tempo em crise” e como “um inquietante desencadeador de perspectivas que mobilizaram, produtivamente, o novo século”, podemos apontar “Macunaíma – o herói sem nenhum caráter” como importante marco não só em termos literários (devido às inovações estéticas experimentadas), mas também em termos sociológicos e antropológicos para uma compreensão mais apurada e ampla do que é ser brasileiro. Talvez seja esta, em última análise, a característica que aproxima a obra de Mário de Andrade às vanguardas européias: a abertura, pela ruptura, de novas perspectivas de produção artística e estética e, mesmo de reflexão sobre a própria condição de ser.



















Referências Bibliográficas




ANDRADE, Mário. Macunaíma. : o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: LTC, 1978.

HELENA, Lucia. Modernismo brasileiro e vanguarda. São Paulo: Ática: 1989.

LAFETÀ, João Luiz. Mário de andrade. São Paulo: Nova Cultural, 1990.

www. portrasdasletras.com.br

quinta-feira, 20 de março de 2008

ironia

E disse a kardecista depois do velório:

- Fomos enterrar o que nunca há de nascer.

quarta-feira, 19 de março de 2008

obscena

a ignorância veemente, plena.

msn e jejum ... todo o crédito para ti, Liv

Lívia Caldieraro ? diz:
somos a mais pura verdade

Lívia Caldieraro ? diz:
somos inteiros, mesmo na mentira

Lívia Caldieraro ? diz:
sempre somos nós

Lívia Caldieraro ? diz:
a verdade...
- Você quer que eu mude ?

- Eu. mudo.
A verdade é intangível; o possível é a alusão.

erótico 3 :

(saudade dos) teus olhos felinescos-
fixos em mim- travessos: me atravessando.

erótico 2:

a dureza do meu pau do outro lado da
linha

erótico 1 :

o grosso do teu timbre grudado no fio do telefone.

Xamã

o poder das palavras.

também eu, discordo de mim

Certa vez ele disse: " As palavras uma vez ditas ou escritas não devem ser repetidas ou relidas. Pois as palavras são como excremento, como secreção purulenta. Guardam em si um vasto todo venenoso e perigoso. Assim como os excrementos nunca mais voltarão a ser alimento, as palavras proferidas perdem todo o seu valor."


novembro de 2004.

música antiga

Logo vou te reconhecer

e sem retroceder

vou a tua presença ceder

meu corpo, minha alma

meus lábios e minha saliva calma.





* rimas pobres.
" - Uma última palavra- disse-lhe, em meu cuidadoso e horrível inglês. -Você está absolutamente certa, absolutamente certa de que... não amanhã, nem depois de amanhã, por certo, mas... bem de que um dia, qualquer dia, não voltará para minha compania? Criarei um Deus novo em folha e, com gritos penetrantes, elevarei a Ele o meu agradecimento, se você me der uma microscópica esperança." (p.383)



extraído de :


Lolita, livro de Vladmir Nabokov.
" eu estava vivendo de mim mesmo. Tendo a mim mesmo como alimento, como vício, como crença, como hino, como pátria, como chão, como abismo, como matéria para a criação. E não era um narcisismo. Era apenas o único modo possível. A fuga das farpas. A salvação."
negra têmpera dos teus pêlos

ventos de vida lufados límpidos

lampejos mudos, beijos surdos

e cegos

entrecortado pelo entrechoque compassado

dos nossos corpos em calor crescente

cravado movimento

eixo dos sexos


reflexo sem

nexo flexões.

alucinações aleatórias

se arranjasse um jeito

de com branco gesso engessar teus gestos, gravar tuas gírias...grifar de fato-passado teu cheiro no olfato.

junho de 2007 fragmentos de "pós-glacial"

[...] Preciso me desenferrujar. Estou por demais sujo com porcarias várias dos outros todos tão insistentes em me empurrar palavrórios e palavrões. Quero a minha porralouquice pura, puta, em estado de ebulição e com tesão. Mas não deixam. Cercam-me e sou tão claustrofóbico que tenho vontade de só rir. Só rir. Só rir. A minha risada atenua a minha prisão. Desnuda a minha alma. Acalma a minha sofreguidão. Guidão de bicicleta. Pernas metálicas onde roço as minhas. Moem o ar os círculos em sequência rotativa. O pedal dando voltas inteiras, lisas, macias. [...]
Percorrendo ruas broncas e imaginárias, passeio com a tua ossatura viva -partes físicas tuas que em mim restaram, como as fissuras irrecuperáveis abertas na polpa da minha boca (calada boca, alaga e aberta)- revestida por incessantes composições minhas ... te recheio e recrio com versos viciados e ilusões prontas...mas algo de ti quebrou, descongelou lados soturnos meus- internamente costurados e pretensamente consistentes contra intempéries bárbaras de têmperas toscas. [...]

E Lívia me disse:

- Sou o espelho de um banheiro bonito e sujo.

prazer breve

As formas

os tamanhos

despencados

misturados

à minimização

da nitidez

da visão



Vestido de gentes


coberto de mãos

e corpos


estranhos

em contato imediato

de

variados graus


e temperaturas



encostando

nas minhas costas

ocasionando escoreações

e ações turvas

desfocadas



A forma vai inchando cheia

varrendo as veias

desocupando calcanhares de Aquiles

com a aquiescência da adolescência


desmentindo anciões

distorcendo ansiedades

cuspindo em pragas

impregnando impactos

tingindo

espasmos

de ímpeto

puro

e controverso

trovejando

viajando

à


jato

Na brevidade de uma ejaculação.
toca

com a ponta dos dedos o cigarro

e o leva leve

até o contato com os lábios




seca em mim

a ausência de desejo


meus olhos são banhados

pelos teus braços tatuados



tatuas em mim (sem sabê-lo)

com teu tato (e desvelo)

perpétua tatuagem:

tua imagem

(miragem)
canto no meu canto


.......................... para calar

o

silêncio



sem poesia



A vida nos vence


se sacia



sem poesia,



a vida



............................................... é vazia.

(máculas)

A pretensa pureza/a doçura perdida sublinhada sublime/é o que nos perde nos esconde de nós mesmos em buracos ocos... buracos cacos... cacoetes/caçoadas...

------------ caçados os instintos/temidas as dentadas/avifeladas as máscaras/ suavizados os ascos/envenenados os sentimentos sortidos sórdidos perdidos...
sou dos bruscos


que buscam elos

e

recusam halos ralos.
Mesmo esfarrapado é preciso deixar as frinchas

os inchamentos linchados pelas corporativa masturbação

os sangramentos sagrados sangrando secretos

os vetos as vaias os saias

as gotas os cálculos os sacos

os arrotos os arroubos os roubos

Lá [bio] s

toda boca cálida é válida.

domingo, 16 de março de 2008

(Di) versão a dois







Me perverte

Em teu pivete-puto

Me reverte

Em teu brinquedo subversivo



Faz verter a vida viscosa

de mim




faz-me teu

para que eu te possua .

flexões

A vida não é como a literatura. Extrapola os pólos literários. O literário é um filete tênue, minúsculo do oceânico movimento existencial. O olhar analítico sob uma perspectiva filosófico-literária sobre a vida é somente um prisma parco, limítrofe. Hipertrofiar o pensamento em direções lacerantes é gritar além dos limites irracionais da razão. Libertação. Pular sobre dogmas e paradigmas. Ser insincero consigo é atirar-se a um precipício principesco de vaidade. É maravilhoso ser venrado, desejado, aclamado. E tão falso. Utilitário. Reproduzir o jogo deles com uma pitada ou outra de ousada originalidade originada da subestimada e usada vontade de ir de encontro a. Macaqueias, maquias, mimetizas. Ofereces flores e falo, e feneces mesmo assim ... à força do templo dos tempos... teu poder fraqueja, pois também ele só é potência no ensejo viril de se-lo. Metamorfoseável apenas em vontade de; caso haja não tacanha e sim tamanha atenção.

querer ser um forte é demonstrar pulsão de poder?

" O artista trágico não é um pessimista, ele diz sim a tudo o que é problemático e terrível, é dionisíaco." (p.43)

" Destruir as paixões e os desejos unicamente por sua brutalidade e para evitar conseqüências nocivas que esta produz, nos parece hoje uma fórmula particular da estupidez" (p.51)

" [...] atacar a paixão na sua raiz é atacar a raiz da vida [...]" (p. 52)

" É verdade que, em muitos casos, a paz da alma não é senão um equívoco, e apenas significa algo que não pode expressar-se honestamente." (p.53)


do livro :

" Crepúsculo dos Ídolos ou A Filosofia a Golpes de Martelo", Frederich Wilhem Nietzsche.

Leitura indicada por meu irmão Charlies Uilian .

- o cristianismo não incutiu a virtude. Institucionalizou a hipocrisia.

estética

sinto-te . e isso não tem nome. não é redutível. sentimentos, sensações não são sintéticos, sintáticos ou estáticos. são extáticos.

elogio III

issoo !

elogio II

teu cheiro é bom.

elogio I

Tua boca é pornográfica.

trincheira

em campos

corro

encontro LIBERDADE

- não insticionalizo instintos-


em campos,

morro.

entrelinhas estrelares

reticências e exclamações.


- interrogações ?

sadismo

tua crueldade (in)cruenta.

Heroísmos artificiais (esboço)

O primitivo nunca nos foi privado. Nunca foi privado.
Ardo. Cardíaco. envenenado. elemoníaco.
O que escrevo é digno de ser lido? Selado? Velado?
O que escrevo tem cheiro. Cheira. é cheio. e é também vácuo.
feito fogueira forte...sou os galhos secos crepitanto (verdes?)... estalos secos, altos : largos.
Eu quero te contar o que sinto. Minha tensa intenção tesa. Falo de pêlos e pele eriçados. Falo de falo e de carne, porque rejeito a sublimação. Não sou etéreo, sou éter. A nódoa não me abrevia; amplia as vias de vida.
Minha precisão é imprecisa. Cisão com o discurso pragmático dos passantes.
Quero te dizer da minha infância. Pois tudo teve um começo (teve? há também o eterno. o que é um mistério corrosivo inexplicado.) Quero com a voz de adulto corporificar o abstrato da infância. informulável. Quero falar do que me foi interdito/ o que ficou sufocado. Meus olhos oblíquos quase envesgados foram torturados... derramaram grosso sal sob osol sobre as minhas retinas.,] Eu não podia dormir na escuridão. O breu me estonteava. Urdia a artificialidade da luz desnudando o espaço. Meus ouvidos zuniam e a noite era um bicho me bicando o intestino. Como pude envelhecer até uma adolescência, ninguém poderá suspeitar.
(eu sou a minha infância que envelheceu, envilecida)
jogo com amor a minha mão crescida de longos dedos masculinizada por veias salientes para uma mão pequena e branca de criança.
Pois tudo teve um começo. E o meu início foi fosco. Foi fossa triste.Tão escura. Povoada de ratazanas gordas. roendo, roendo, roendo. não mais dói. escuto-me. Eu me arrepiava de medo do que o escuro escondia. por isso, sempre tive amor às luminiscências. Teu olhar claro me transita, ilumina-me... ( com teus olhos consegui me enxergar. foi miraculoso, como nas parábolas. mas não fabulo, apenas digo.) é carícia isso que digo? é pouco inteligente?
fui uma criança solitária. triste. Ainda o sou. Só que antes eu era mais. Advertência intermitênte: o pestanejar de sílabas não me seduz mais. Reduzi-me a ele por subjetivo gosto. Agora experimento com gula a ruptura com essa coagulação do pensamento. Subescrito-me com tenra dureza. Rijo fixo o que quero dito. E tresdigo-te. embora isso seja maldito ( ... ) eu pedia um irmão quando era pequeno. não era um irmão que eu queria, compreende o que isso protege? Não sou implícito. Entretanto, sou um mistério para mim mesmo e me angustia ouvir-me tão difusamente. sou evidente em indícios e não minto. sou verdadeiro e inconcluso, porque estou em uso. Não posso ser categórico. O Absoluto não existe. Por que sei disso apodreço depressa/ petrifico meu pensamento antes que ele desapareça. Estou morrendo.
Não demonizo, simplifico ou personifico a morte. Única garantia da mortalidade. A morte é vida transcorrendo, gastando-se. Jamais revoltaria-me contra a morte. A morte é a vida sendo em movimento.
Movimento meus dedos lentos lânguidos largados trêmulos tocando o áspero da tua barba... cerro os olhos... enxergo como os cegos, com a inaptidão que as pontas dos dedos tem para a visão. [ lembro de Tirésias, sábio e profético: cego] ... é com timidez e desejo - sangrando,sagrado- que desmaio meus dedos com agrado no duro dos teus pêlos.
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sou um feixe de nervos recebendo choques.seiva bruta inlapidada. inocente.
beijo a tua inocência com respeito.
venero teu veneno.
quero a dose letal.
admito e admiro a fatalidade.
à beira do abismo, não me abismo. sou obstinado, meu fígado figurado. Rabisco à giz. risco-nos à cera, rindo. estou sozinho com um pedaço teu dentro de mim. Fagulha me incendiando.
sou ínfimo para suportar essa centelha tua que me pesa por ser demoníacamente alegre. gritante. cresce.

intransigente

o transitório.

Achados e perdidos

um bom lugar para se estar.

Amor.al

tua maldade inocente .

sexta-feira, 14 de março de 2008

Masturbação secreta

tenho-te



em minhas mãos.

chave-mestra


no paraíso que se perdeu, todos andavam nus

quarta-feira, 12 de março de 2008

e enfim

"... E enfim, estavam (em vão) os dois... frente a frente...os olhares entrecruzados ...
... algemados um ao outro...

luminosos, surpresos, atônitos

Distantes de todo o resto que os cercava


, que era só o resto costumeiro,



barulhento,


poeirento,


vulgar,




sujo...

crianças correndo,
cães sarnentos
e abandonados,
e humanos (sempre eles)...



Havia tanto a ser dito...

mas

a voz estava presa por mil nós, que a impediam de sair...



o silêncio falava tanto,
o silêncio falava alto...
o silêncio era ensurdecedor...
um grito abafado,
velado de manto de sangue...

E eram os dois,
frente a frente,
e , entre eles,
muito chão,
muitas gentes,
muitas histórias...

E entre eles
o tempo, a solidão, o desespero...

e dentro deles

corações pulsando,
almas ardendo,
a saudade gemendo
(in)disfarçada...

e o silêncio,
o silêncio
permanente
latente
girando,
girando seco e pontiagudo,

criando feridas novas, que se assomavam às antigas,
até que..."
Para Lívia Caldieraro de Souza







Escrevo chovendo achocalhado, chorando...

Escrevo cravado de pedregulhos, ruminando entulhos transpassados...

Escrevo com a certeza ávida e ácida de que (não) escrevo NADA. De que as palavras presas ao papel já nascem manchadas, machucadas, mancas...elas não conseguem transmitir o essencial, só o supérfluo. Tão acalentador supérfluo que super flui tranqüilizado e tranqüilizador por águas trêmulas na super fácil face da superfície.

Não quero o previsível / quero expandir a minha ridícula retina/ quero explosões extáticas de imagens iridescentes, impolutas e impopulares, polpudas de caras, poupadas de censores, desajuizadas e difíceis...

Indeciso, tateio o cinzento da vida. Onde tudo é borrão berrante. Onde nem existe aborrecimentos ou estremecimentos. Onde o caldo capta tudo e promove pacata e esparsa navegação. Tento, tento, tento ... me arrebento de tanto tentar... me racho e sangro sêmen e saio baixo rindo da minha dor. Uma vida costurada de começos sem fim. Assim.
Mas, não desisto.Insisto na minha existência.E dela, faço tudo de ensaio turbulento , no qual experimento e minto e chego à rareadas conclusões , porque penso que conclusões (de)limitadas, contorcidas e contornadas não servem pra nada.

Pelo menos, não pra mim.

As finalidades das coisas, das ideologias,por exemplo, nunca chegam a ser executadas. Sofrem deformações profundas – e à medida que se aprofundam essas deformações –ficam de faces transmudadas, transfiguradas.

O mesmo não acontece com os começos. Os começos têm a iluminação e força penetrante dos cometas. Os começos são sinceros e puros em seus passos despistados e titubeantes. Os começos são despreocupados e são ... simplesmente... Com uma pureza sem vincos nem brincos. Começam sem vaias ou aplausos, com úmida humildade vívida e não-pálida. Os começos são de torções tensamente torturadas de cores promiscuamente arranjadas. Os começos na vida –os ensaios da vida – têm a liberdade de não serem servos de Nada... de servirem ao instante que foge em instantânea fuga.

Mu(l)tilados



florescer fosforescente:



estaria eu perdido em

campos ... minados ?

Beleza


Tio da Júlia: sim, é bela a letra do Charlies. Uma beleza
desacostumada com a trivialidade das letras que se querem
legíveis... hieróglifos de pensamento enigmátizados,
magnetizantes. Não uma letra arredondada à força dos
padrões parcos... pois beleza , verdadeira e não a
prostituída é isso: reunião de particulas portadoras de
instantes instáveis... beleza é ondulação, movimento... são
pingos no espaço - tempo... corroendo espaço e tempo e
dando por frações de segundo sentido a tudo... beleza é um
arranjado caótico, como o caos organizado do universo.

Ab.sol.luta.mente

para Uilian Campos




fraquejo

diante dos teus olhos felinescos

relampejando
permanentes

dourada esfinge

que foge.

terça-feira, 11 de março de 2008

perícia íntima

- Sinto muito...

- Sinto tanto.

sexta-feira, 7 de março de 2008

finais felizes são farsas infelizes .

Di lema diamante





entre






ter





e





não ter






eu prefiro









(me) entreter.

citações

- Que esse blog não se torne um avolumado de citações! (prece feita)




Concessões:


1. "As Horas" , de Michael Cunningham (livro que originou o belo filme)

" Clarissa acreditava, então, e acredita ainda hoje que aquela duna em Wellfleet vai acompanhá-la, num certo sentido, para sempre. Aconteça o que acontecer, sempre terá tido aquilo. Sempre terá sido jovem e indestrutivelmente saudável, com uma leve ressaca, usando a malha de algodão de Richard, a mão dele em volta de seu pescoço, de um jeito familiar, e Louis um pouco mais distante, olhando as ondas."

2. "Uma temporada no Inferno", Arthur Rimbaud

" A vida é uma farsa que todos devem representar"

" Ah! Sofro, grito. Sofro realmente. Entretanto, tudo me é permitido, a mim que carrego o desprezo dos mais desprezíveis corações."

" [...] Quanto à felicidade estabelecida doméstica ou não... não, não posso. Sou muito dissipado, muito fraco. A vida floresce pelo trabalho, velha verdade: no meu caso, minha vida não é bastante pesada, ela voa e flutua longe, acima da ação, esse precioso centro do mundo".

non sense ou poros

Não particularizo a palavra a ponto de prostituí-la para que ela purifique qualquer coisa.

seja feita a Nossa vontade

encontrei este escrito, e sorri. Me parece muito colado às minhas leituras de Hilda Hilst, mas é meu. ou talvez nunca tenha sido. Não acredito em posses; em possessões e poções sem fim sim.


Eis :


" E eu sou teu mortal, meu deus, ofereço o tudo-nada que possuo com humilde servidão- plasma e pus, sangue e sêmem, braço e boca... tudo teu, meu senhor, faça o que quiser,


(f)ardo meu escolhido

expandido em extase
galático
infronteiriço
irredomável
indomável



e tão dócil-frágil

ao toque teu."
persigo as palavras-perigo
que perfuram os tímpanos
despidas
cruas de panos
chucras

nem boas nem ruins
apenas verdadeiras.

Lembrando Quintana

" Meus olhos eram os teus pintores!

Mas, afinal, quem precisa de olhos para sonhar?
A gente sonha é de olhos fechados"


Quintana, Mário. "Terra"

sem título, de 31-07-06

Doce demais enjoa. ENOJA. É preciso que se salgue um pouco... que se misture um pouco. Uma pitada de cada sabor. Caso contrário, é geração de tédio. É pão-de-cada-dia típica do proletariado cansado de tanto labutar honesto. (cansado do exagero das virtudes e da paz de espírito dele advinda) . As vidas honestas e humanitárias ao extremo são admiráveis, mas ... guardada certa distância... porque, francamente, tudo tão regrado, tão impolutamente correto e incorruptível... isso é farsa, embuste. E eu gosto das coisas de verdade, dos seres de carne e osso, que cheiram, fedem, dos que são tão propensos à doçura quanto à amargura... A medida correta é a desmedida inexata. Nada de limites falsamente moralizantes que, no fundo, são os trajes da covardia e do medo.

Covardia e medo de adentrar livre no jardim selvagem- tremendamente perigoso, eu confesso, pedregoso, repleto de predarores esfaimados prestes a dar o bote, mas irresistivel e irrestritamente atraente.

Descreio desses que apontam as aventuras, essencias para qualquer vida que mereça receber esse nome, como pecados... cagões idiotas com medo de um inferno produzido tão remotamente. Inferno maior não é viver sem audácia? A inaptidão para a ousadia, os refreamentos e repreensões próprias, que dilaceram o ser impedindo-o de existir plenamente... empurrando-o para uma insípida existência, um molambo de vida desdentado e fétido, sem a mínima importância para a humanidade. Querem animalizar o Homem de uma forma grostesca, incabida; inventam-lhe instintos que não lhe são próprios tornando-o uma peça artificial. Uniformizam as mentes, mentem que o homem é um homem que nunca foi, nem nunca chegará a ser... e para que essa porra toda- esse ciclo repetitivo desde a formação do mundo? Para que essa virtuosidade virtual imaginada e desejada? Porque não abrir os olhos para tudo que nos rodeia, limpos desses engodos, das ficções abstratas, para, finalmente, com espontaneidade, contemplar o concreto... toda sua beleza inerente e que dele emana?

será que nossas neuroses não estariam curadas se olhássemos isso em vez daquilo? Se rompessemos de uma vez por todas com essa alucinação coletiva que adotamos por nossa educação (que, desde cedo, condena ou melhor, repreende brutalmente a nossa liberdade de sermos realmente quem somos) ... será que não seríamos mais felizes, compreensivos, complacentes, menos condenatórios ... mais livres e menos loucos ?
De Tieta ( Sônia Braga) para Eleonora ( Cláudia Abreu) :

"- Homenagem de homem pra mim é pau duro. "

Tieta do Agreste, direção de Cacá Diegues, adaptado da obra homônima de Jorge Amado. Com roteiro de João Ubaldo Ribeiro e Antônio Camom.

continuação do excerto ...

Adia-se o grande encontro, nos grandes shoppings, nas transmissões televisivas, em bares, nos estádios de futebol, em todas essas grandes minúcias de frivolidades que afastam o ser humano da humanidade, e talham o ser humano já deteriorado de sua condição de humanidade, alienado {...}

serão esses questionamentos os primeiros passos para romper com tão rígido cárcere? Ou mera fuga alastrativa e atraente, novo inaugurado ponto de segurança para minha estéril evasão?

sigo ignorante nesse paraíso fantasiado, nesse oceano de mentiras, ainda distanciado do fruto proibido.

Fruto proibido... tão proibido fruto. (prometido ?)

excerto de julho de 2006

Paro e penso. E não consigo manter-me ereto, sustentado, envolto nessa corrente sufocante de angústia que me prende pelos pulsos.
Em meu monólogo diário, já nem sei se o que eu falo, essa voz -provavelmente minha- que escuto, se tudo isso nasceu de mim... ou se isso é só uma parte dos outros- o hino humano-meramente repetido, como um ritual tradicional executado exaustivamente sem o menor questionamento, hesitação ou raciocínio... são os outros- quais ? tantos? todos? desde quando isso teve início? -quem torpemente me possui o corpo e me faz ínfimo fantoche, ventríloquo risível ?

Queria poderer farejar, identificar onde me prendem essas invisíveis amarras que tem me impedido de ser eu mesmo... nem mesmo sozinho, o encontro desejado... essas palavras que falo, até que ponto se separam das coisas que li, dos antepassados, do míssero senso-comum? Porque , apesar do tempo estar passando, minha escravizada mente não se rebela? Pelo contrário, permanece serva humilhada... fielmente submissa... amordaçada perpétuamente...

Esse inimigo que me oprime já teve muitos nomes, muitas formas, já foi uma pessoa, um ideal, uma corrente filosófica... mas essas definições são parcamente ridículas...soluções provisórias que se arrebentam ao menor sopro...

As mentiras- tranquilizadoras tem me perturbado, porque, enfim, decidi me aventurar na busca por respostas... E o que encontra quem se arrisca a tal empreitada? Mais e mais perguntas, uma cascata violenta de perguntas, perguntas proliferando-se como coelhos inquietos e anárquicos...

Não que eu queira a tranquilidade.

Não quero ? !

Claro que quero.

Mas.

Uma outra tranquilidade (quiçá intranquila). Não essa de uma vida superficial, epidérmica, qm eu todas as ações sejam escrupulosamente regradas pelo o que a coletividade ordena. Isso é mediocridade. Isso é monitonia. E isso, eu não quero.

E nem é por rebeldia. Antes fosse isso: rebeldia vazia, rebeldia retórica. Não é isso. É apenas uma questão de aceitaçã da minha natureza- coisa dificultada por mim mesmo muito mais do que pelos outros- tão retardada e adiada, disfarçada sob incontáveis disfarces vestidos em diferentes momentos da minha vida.

Sim, esses disfarces que tanto me faziam rir e chorar, que eram armas disponíveis da minha defesa indefensável meus hálibes imperfeitos, foram eles que me confundiram, feriram, e não protegeram como o pretendido... Idiotamente, eu acreditava que eles me davam superpoderese me transformavam ou defendiam como um pedaço distinto da vulgaridade do mundo que sempre me incomodava profundamente. O que eu nem sequer desconfiei, ingênuo que fui, era que ao adotar essa prática cotidiana- eu me aproximava e não me distanciava da vulgaridade de toda a gente.

Claro que me viciei nisso. Agora não consigo manter-me abstêmio. Pode ser que isso seja um traço inato- inerente irrevogavelmente na espécie humanae eu, nessa busca pela Verdade, esteja apenas querendo negar a humanidade presente em mim.

Não consigo mapear o contorno da minha alma, ela se esvai... talvez tenha medo de se mostrar selvagem, animalesca, impura...

Por isso, passo tantas horas em solilóquio, porque quero ver (uma vez ao menos) quem eu sou de verdade, sem artificialidades, sem proteções, sem pudores... você já tentou isso?

[...] Tudo o que fazem é repetir clichês, frases feitas, respeitar os paradigmas impostos. E onde fica o humanismo da humanidade ? Sua capacidade de sentir pelas próprias forças, de colar com garra as garras nessa coisa líquida, incerta, que é a vida ? [...]

era uma vez

tua voz

é algodão
tocando áspero e curativo
em minha ferida gangrenada

traduzias

você colocou suas mãos amigas
bem dentro
das minhas
vagas
e
frias

e foi me levando para não sei onde
(talvez onde a dor se esconde)
e eu, enfeitiçado fui sendo levado

quando recobri a razão, assustado

já era muito tarde (findo o alvoroço)
não restava nem osso, nem caroço
do fruto proibido, devastado.

cifras ou finalidade ou plágio ágil

pétalas podres

não ficam presas ao caule

tão logo suspira o mais delicado vento

sem sofrimento
caem aliviadas


podres e sábias,
essas pétalas... perfeitas

sabiam que iam desabar
caíram sem lamentar

pois para isso foram feitas.

Hóspede

O meu desejo

é hóspede que pede

que manda

que comanda


que me assalta

de mim salta

para no teu ombro pousar

e enfim repousar.

Luto

A minha solidão é sólida

ela não me apetece

finge que nem me reconhece


mas

ela é traiçoeira
obsessiva
na marra
me amarra
agressiva

vejo o seu vulto

e nem luto




aceito.

Ad infinitum

A minha procura não tem cura

Não se ressente
não é recente, nem sossega intermitente


nem que eu tente


é forte

corte

que fere

no ponto mais vital


reconheço-me animal

em franco cio

que me faz

fraco e frio.
Obscenidades da puberdade ...

Preocupar-se com isso? ... besteira! ... São coisas da idade!

Que carregamos a vida inteira.
tuas palavras putas brutas.

Lei seca

[...] Mantivemos um acordo mútuo, tácito, de encobrir processos. Mumificar segredos sagrados é regredir. Transgredir é tentar dizê-los, posto que indizíveis. [...]
Ereção herética heróica em (cor) ação : isso que quero ser quando crescer.

Do instinto racional

- A liberdade é incompatível com a deliberação ?
Elipses pontuais ampliam pontuações.
Escrúpulo é a capa da covardia a que louvamos virtude.

citação

" Cansou-se de ler as linhas ordenadas do mundo. Cada ser é uma constelação de duelos insolúveis, às vezes a espada lampeja e o olhar clareia." [...] "Há em cada poeta uma aventura singular que articula o tempo que a vida escolheu para ele e o lugar que ele escolhe para si na vida"


in. Instrução dos Amantes, de Inês Pedrosa

Paraíso Perdido

Até o dia em que o espelho de Narciso rachou.

terça-feira, 4 de março de 2008

paixão

fazer das tripas coração.