domingo, 24 de agosto de 2008

Sobre Comer, (in)satisfações e antibloguesias



Acendo um cigarro. A gente deveria ser assim também. Como os cigarros que se acendem e se apagam na brevidade de uma tragada podre. Não, eu não fumo. Não todos os dias. Detesto banalizações. Há quem banalize ...

(fragmento suprimido)

Até pensei em não escrever mais, porra, por um punhado de amizades que- verdade-seja-dita-escrita-mentida e/ou não editada- não ligam a mínima pra mim... não quando eu estou lá na sarjeta suja com apenas uma possibilidade de ressaca e vômito no dia seguinte. Ah, dias seguintes... sempre eles : a nos salvar/ a nos perder/ a nos matar.



Esse cigarro tá quase no fim -sim, escrevo lento... como são lentos meus gestos e reações. [...] Estou no centro mole de um pesadelo: o do não-escrever, do não-viver, do não ser. Que engodo, que grande engodo me tornei e por tão pouco... 'tão barato que eu nem acredito/ Ah, eu nem acredito'


Pronto. Levantei, acendi outro cigarro. Pena não ser maconha. Se bem que, como vocês sabem, eu nunca soube tragar um baseado e uhul e tudo mais. Sou tão ridiculamente sincero ao relatar isso e mais outras coisas que me julgam engraçado. Foi assim quando, uma vez, saindo da aula, eu falei pra uma colega que eu era dos passionais... como os adolescentes que juram amor eterno e querem morrer de amor. Tudo com a maior seriedade. Ela gargalhou. Deve até ter molhado a calcinha... e eu insisti, tentei explicar... Eita! Grande medo das verdades. As pessoas se rendem às mentiras e desconfiam até a morte das mais simples, óbvias verdades. E isso cansa pra caralho.

Penso, repito, que lâmina cortante pode ser este texto. Bete Davis de sombrancelha arqueada e sem drama de consciência deveria ser este texto. Sem a proteção de pseudônimo ou e sujeito lírico e blé ble blé. Estou infelicíssimo. Inseguro. Sem a menor idéia do que quero pra mim, pro meu futuro. Não um futuro distante, mas meu futuro-que-virá-em breve. Meu futuro presente.


(parte suprimida)


... Reconheço que invejo esses garotos burros e selvagens, nos quais eu, em vão, tento incutir virtudes, conhecimentos, regras gramaticais e comportamentais... Eles não têm nada. Mas o nada deles é tudo.TUDO o que eu queria ter. Como me murcha a possibilidade de uma vidinha enquadrada em conceitos, as emoções enlatadas, as reações previsíveis... eu quero é sarna pra me coçar, quero arrepios da sujeira das unhas às pontas quebradas dos cabelos; quero poesia, veneno, das noites boêmias despropositadas, poluídas; profundamente profanas; profíquas.

... Não suporto edificações sociais, rebeldias retóricas, metáforas que tardam e falham. Por isso minha paixão louca por enredos, palavras, imagens. Frisson e fantasia são as minhas necessidades básicas.


Preciso inventar um nome pra confessar isso? Preciso fugir de mim, pra ser eu mesmo?


Não quero ser ração do sistema de verdades.Não quero ser mera graxa, sem-graça, nessa engrenagem grosseira, gangrenada. Procurem outros. Os que melhor do que eu representam. Os adequados- adequáveis-sociáveis-tão-comemorados. Os de sucesso.


Quero fracassar, ficar assado. Redundância: quero a minha sarna que coça até arder, até fazer ferida. Quero a língua presa, solta. Meu direito ao defeito de dicção. Minhas gorduras localizadas. Minhas fantasias sexuais sujas em segredo. Minha monogamia sentimental -por que não?, minhas platônicas paixões irônicas- que nascem, correm e morrem a minha revelia.


Disse o Dudu, mais ou menos isso: somos feitos para insatisfação e ficamos insatisfeitos com isso. E ele estava tão exato que me subiram lágrimas aos olhos.


Eu choro todos os dias, por uma excessiva luminiscência ao ver tudo isso. Os espetáculos estupradores. Acho deprimente. Esses moldes castradores -essa fome por clichês, repetidos à exaustão. Será que é isso viver? Esse cu de circuito bobo?


movimento retilíneo uniforme.


UNIFORMES.


Ao longe

anárquica, disforme


MUITA FOME.

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