sábado, 31 de maio de 2008
terça-feira, 27 de maio de 2008
(Re) visão, variações
de tanto eternizar(Saudosistas)
Chegando perto
aos céus.
Pelas Informações diversas
Acumuladas pelo tempo
Estagnando a mente(chocada)(perplexa)
Nunca esqueço, me fecho
Nas memórias absorvidas que
Carregam / o peso do mundo/ costas calejadas/são...
...como lambretas...(antigas)
.vagarosas.
Sem notar a EvoluçãO(de rápida locomoção)
Que É SER sem significado ou direção.
Emudeço nas profundezas de meu íntimo.
Rumo ao inesperado.(Qualquer caminho.)
Temerosos ao novo.
Pois quem lembra demais
Perde demais.cega.
E eu.
Me cansei de tanto rezar!
...com os joelhos ensangüentados...
Na madeira envelhecida entregue aos cupins
Quanto duraria sem dar de joelhos ao chão?
(Djalma Nobato )
Rezei a reza dos antepassados
Saudosistas de tanta eternidade
Chegando perto aos céus
Pelas Informações diversas
Acumuladas pelo tempo
Estagnando a mente(chocada)(perplexa)
Nunca esquecem se fecham
Pelas memórias absorvidas que
Carregam / o peso do mundo/ costas calejadas/são...
...como lambretas...(antigas)
Sem notar tal.Evolução.
que sem significado ou direção.
Emudece.
Rumo ao inesperado.(Qualquer caminho.)
Temerosos ao novo.
Pois quem lembra demais
Perde demais.cega.
E eu.
Me cansei de tanto rezar!
...com os joelhos ensangüentados...
Na madeira envelhecida com cupim
Quanto duraria sem dar de joelhos ao chão?
(DJalma Nobato)
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Com a força das tuas facadas
PalavrasFincadas/Ilhadas
Pois numa ilha habita
Teu servo/que te fez servir
E
Nem notaste
Cegaste
e
de cegar-confundiu as passagens
Dos próprios sentidos-inertes,inóspitos.
Nem resplandecente nem formosa.
Buscava a formae não alcançavapois nossos desejos nem sempre são.
Mas ame com a clareza de seu coraçãocego, tateando
(Djalma Nobato)
Tremo/Indiscreta
Na floresta a noite
O
Interno murmúrio
Vem te amolar
com seus
sombrios lamentos de árvores
..choram
Seculares
histórias
Vistas, sentidas
No peso.
Estaca!
Machado!
Pede!
(Djalma Nobato)
Contaremos a nossos filhos imaginários nossas aventuras pra esconder o quanto solitários somos, beberíamos vinho lembrando do seu desgosto pelo "Sangue de Cristo", a cerveja ao lado.Como sempre
imprevisíveis.
Indizíveis
pensamentos dos sentimentos."
( por Djalma Nobato)
quarta-feira, 14 de maio de 2008
s u i c i d i o c o t i d i a n o / e s t ú p i d o
a t e u s p é s a t e u s
a t a d o s
m e p e r d o e
m e u a m o r
t a n t o
t a n to q u e n ã o s e e n x e r g a
é m e s m o m e l h o r
o a r s ê n i c o
o s n a r c ó t i c o s
e o q u e e u q u e r i a
e r a b e m t e a c a r i c i a r
t e p o r e m m e u c o l o
- é melhor mesmo que suicidemos tudo.
m e u a m o r
m e u m a i o r a m o r
s e r á q u e a s palavras que tanto nos extasiam
será que elas são insuficientes ?
m e p e r d o e , a m o r
p o r t e r T A N T O t e a m a d o
p e l a m i n h a t o l i c e
para o futuro:
( quando eu for uma lembrança, talvez tudo se explique. Talvez. )
No entanto
terça-feira, 13 de maio de 2008
Peça desfeita
cigarro entre os dedos, roupas pretas,
sorriso sorrindo com cirrose, quase escapando
Sempre quis dizer a ela que ela valia uma bela fotografia. Não é bem isso. Talvez ela não compreenda, porque não sei dizer...
entendo tácitamente que ...
Entro no apartamento. Lívia corre elétrica com uma fita no cabelo. Tão bonita está. Cheia. Feliz, finalmente.
Do banheiro, surge Helen, com sua beleza helenica, grega. Dona de uma bela idade. Somos apresentados. Helen tão pura, tão limpa... saudável... Zonzeira... ninguém resiste a uma beleza dessas...
Alana no sofá. Esparramada. Falamos de livros. Livremente espetamo-nos no nada.
A cachaça estendida por mãos amigas me confere ares de super poderes. No entanto, não me engano. Sou só um pedaço, sou só. Fugindo das minhas lembranças, das impossibilidades... da minha vida, de mim mesmo. Apaixonado até os ossos, à queima-roupa.
Percorremos ruas dos viados, das putas, dos vagabundos, dos viciados.
Entramos lá.
E lá, o tropeço de um cocainado nos faz rir. Rimos dele? Rimos de nós mesmos?
E Bruna me fala:
- Eu tô fudida, tô apaixonada ...
E eu respondo:
- Eu também tô, eu também...
Vontade de abraçar Bruna. Bruna.Vontade de pedir um beijo. Tô tão sozinho, Bruna, aqui... e ele nem pensando em mim, eu acho...
- Quero fumar maconha, Liv, vamos?
E não fumamos. Era proibido.
de um Beco distante
e saias
teus meios
e medos
absintamos
nossas mãos misturadas
ursos no teto
mojito na garganta
cigarro ao lado
ciladas em nós.
opiniões sobre mim
Tu é engraçado.
Esquisito.
Figura.
Quieto.
Misterioso.
Triste.
uma interrogação.
sem jeito.
penderro.
vagabundo.
sarcástico.
irônico.
malicioso.
calmo ( o mais equivocado pensamento sobre mim)
A Gana
Onde colocar
A gana?
Engana
que
.de tanto querer.
emudece
que gana é essa?
de tanto, arrasou
quebrou.
intacto ficou
estou
e a gana.
a gana que movimenta.
pra onde vou?
inquieta dessa maneira
que gana!
onde engana?
se de tanta gana
aqui não estou
por Djalma Nobato
A cabeça decepada
a cabeça decepada
decerto não serve pra nada
A cabeça decepada
tem olhos
mas não vê
A cabeça decepada
tem ouvidos
mas não ouve
A cabeça decepada
tem nariz
mas não cheira
A cabeça decepada
tem boca
mas não bebe
nem degusta
a cabeça decepada
não se entristece
não se alegra
não se enfeita
não se vangloria
A cabeça decepada
separada do resto do corpo
a cabeça decepada
esquecida está
a cabeça decepada
nunca mais estupefata
nunca mais
A cabeça decepada
sem serventia alguma
outrora doentia
agora
inválida
a cabeça decepada
está à espera do sentido
que não veio
A cabeça decepada é mais inútil que um pano de chão
A cabeça decepada é repugnante em seu estado de putrefação
A cabeça decepada vive em solidão
A cabeça decepada não é mais nada
A cabeça decepada é
apenas
uma cabeça decepada.
Heroína
"Minha amiga, queria te dizer sobre tudo que minha alma cala e insiste em não dizer, peço tuas mãos para que perto de mim voem e fechar meus olhos para que me leve.
Me diga que eu não posso mais sentir tanto, porque um abismo em mim se abriu e de decepção pouco posso falar, teu não olhar pra mim e adeus me jogaram lá.
E nunca mais o estrondo daquele primeiro dia."
por : Djalma Nobato
Anjo
Ou serve como amostra de que realmente fui um ingênuo... com sonhos irrealizáveis, vivendo agarrado nessas ilusões, e com muita vontade de um dia chegar a ser amado.
De repente, num repente
a faísca rompeu o lusco-fusco
que outrora ofuscava meu olhar
irrompendo a penumbra sombria
surgiu teu rosto ebúrneo, anjo coberto de luz
Mãos trêmulas, hesitações, estações, excitações
tudo respirando o mesmo ar rarefeito
tudo, dentro, não sei como, do meu peito
Foi ali, no meio do caos urbano, metropolitano
com seus vermes, seus germes, suas gentes
todas gritando com suas falas
como fazendo uma canção trágica
te anunciando
Sinto você logo
logo colocando suas mãos em meu corpo gélido
Estremeço, enlouqueço
esqueço nome, sobrenome
endereço
suas mãos tão brancas, que me ferem os olhos
acostumados ao trivial
suas mãos esplendidas, macias,
suas falas, suspiros, sorrisos cheios de malícia
seus olhos sacis me espiando
Meu sexo impaciente pulsando
Te implorando
Te desejando
Tua voz penetrando profunda em mim, me entorpecendo, me estonteando, me embriagando
Embriagado eu, diante de ti, tua presença paternal, fraternal, filial
Temo não resistir
Temo te tocar
Temo te olhar
temo meu temor
Tua barba roçando feroz meu rosto
tua pele macia deslizando pelo meu corpo paralizado extasiado
fecho meus olhos e vejo você
a palidez do teu corpo
o sangue pulsante de tuas veias
você talvez não saiba, mas eu sei bem
você é um anjo
que ousei tocar
com minhas mãos pecadoras
um anjo que me envolveu
com suas asas
muito brancas
muito vivas
quis morrer em meio às asas , os braços do anjo com olhos de saci,
Distante das misérias humanas, mundanas, minhas misérias...
um anjo
com olhos
de saci.
Eutanásia
uma noite
Entro
e
peço
uma chave,
um número qualquer
Quero
tão-somente
um lugar pra morrer.
Veranico de Maio
Bastou
aparecer um tímido sol
para que
bocas de bermudas
engolissem
pernas de garotos
desnudas .
Liberdade
da fumaça
do teu cigarro
te coroando e corroendo
me mostraram
que beleza é mesmo assim
carregada
dissoluta no ar
arbitráriamente livre
ainda que presa
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Memórias de um Michê – Faces Brasílicas
Além de serem elementos constitutivos (e por que não dizer caracterizadores) da realidade brasileira, Bibelot e Bonitão , de certa forma, desempenham, nos dramas, a função de sintetizar e simbolizar a discrepância entre a casca e o cerne: entre aparência e realidade; já que tanto um quanto o outro possuem uma aparência impecável –são atraentes e vestem-se sempre com muito alinhamento, usam ternos bem cortados e engomados – o que se contrasta e contrapõe à essência desses personagens: completamente poluídas e destituídas de valores e de uma consistência moral.
Desse modo, ambos são emblema perfeito para os dramaturgos discutirem uma sociedade revestida por uma fina película de hipocrisia- prestes a ser rompida- que encapsula podridões morais, atitudes e comportamentos inconfessáveis. Com precisão cirúrgica, os autores , munidos pelo bisturi da escrita, rompem com a camada epidérmica que esconde e reveste o funcionamento real do organismo-sociedade, composto de engodos e nutrido de hipocrisia.
No filme dirigido por Anselmo Duarte, esse caráter simbólico do cafetão Bonitão fica bastante evidente: ele representa uma sociedade corrompida e esvaziada eticamente em seus diversos níveis. É ele quem primeiro engana Zé do Burro, aproveitando-se da sua boa fé e ingenuidade, quando oferece um quarto de hotel para que a esposa do agricultor passe uma noite mais confortável. Zé, que até então vivia pacatamente no interior, seguro nesse universo de origem (habitado por seus semelhantes), nem desconfia das reais intenções do cafetão e termina por convencer a esposa a aceitar a oferta do estranho. Essa cena é importante para o desenrolar do drama, pois demonstra a ignorância do pobre pagador de promessas diante de um mundo novo, desconhecido, estranho, da cidade grande. Ignorância essa que permitirá que outros personagens tirem proveito da situação, como é o caso do jornalista encarnado por Othon Bastos, que distorce toda a história de Zé para torná-la mais atraente ao público. Há, aqui, uma clara crítica aos meios de comunicação que, muitas vezes, movidos por uma fome mercadológica (ou interesses escusos) recriam realidades, vendendo-as como verdades. Dias Gomes também critica a Igreja, assim como as relações promíscuas desta com a política.
Se em O Pagador de Promessas, Zé do Burro é o único que mantém uma conduta de comportamento coerente com seus valores e princípios (o que culmina no seu trágico final), em Os Sete Gatinhos , ironicamente, o único personagem autêntico –que não usa disfarces, apresentando-se explicitamente como possuidor de um caráter falhado, sem nenhum pudor disso, é Bibelot ; visto que todos os outros personagens escondem algum segredo: não são realemente – ou exatamente –o que aparentam ser. Exemplos dessa hipocrisia generalizada vão desde Dona Aracy – que secretamente escrevia obscenidades nas paredes do banheiro –, passando por Seu Saul –que escondia o ferimento de guerra, impedimento para o exercício de sua sexualidade –, chegando até Seu Noronha –que cafetinava as próprias filhas “por baixo dos panos”.
Esse autêntico cafajeste ocupa um papel importante na história, pois, ao desonrar e engravidar Silene (e, por conseqüência romper violentamente com o “projeto moralizante” de toda a família do Seu Noronha) , promove o desmantelamento da aparente “tranqüilidade” familiar, posto que, é a partir da descoberta de que Silene não era tão angelical como todos pensavam que se inicia o ciclo de descobrimento dos segredos das personagens. O choque entre aparência e realidade.
domingo, 4 de maio de 2008
Quebramos os dois - Toranja
Era eu a convencer-te que gostas de mim
E tu a convenceres-te que não é bem assim...
Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro
E tu a argumentares os teus inevitáveis
Eras tu a dançares em pleno dia
E eu encostado como quem não vê
Eras tu a falar para esconder a saudade
E eu a esconder-me do que não se dizia
Afinal quebramos os dois...
Desviando os olhos por sentir a verdade
Juravas a certeza da mentira
Mas sem queimar demais
Sem querer extinguir o que já se sabia
Eu fugia do toque como do cheiro
Por saber que era o fim da roupa vestida
Que inventara no meio do escuro onde estava
Por ver o desespero na cor que trazias...
Afinal quebramos os dois...
Eras eu a despir-te do era pequeno
E tu a puxares-me para um lado mais perto
Onde se contam historias que nos atam
Ao silêncio dos lábios que nos mata...!
Eras tu a ficar por não saberes partir...
E eu a rezar para que desaparecesses...
Era eu a rezar para que ficasses...
E tu a ficares enquanto saías
...Não nos tocamos enquanto saías
Não nos tocamos enquanto saímos
Não nos tocamos e vamos fugindo
Porque quebramos como crianças
Afinal quebramos os dois...
...É quase pecado o que se deixa...
...Quase pecado o que se ignora...
Terra Estrangeira ( dir. Walter Salles)
(Terra Estrangeira) - 1995
O lugar ideal para perder alguém ou para perder-se de si próprio.
http://www.youtube.com/watch?v=g1rofNG5ix8
Volúpia ( Florbela Espanca)
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade…
A núvem que arrastou o vento norte…
- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
Trago dálias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças…
sábado, 3 de maio de 2008
Non Je Ne Regrette Rien
Ni Le Bien Qu`on M`a Fait, Ni Le Mal
Tout Ca M`est Bien Egal
Non, Rien De Rien, Non, Je Ne Regrette Rien
C`est Paye, Balaye, Oublie, Je Me Fous Du Passe
Avec Mes Souvenirs J`ai Allume Le Feu
Mes Shagrins, Mes Plaisirs,
Je N`ai Plus Besoin D`eux
Balaye Les Amours Avec Leurs Tremolos
Balaye Pour Toujours
Je Reparas A Zero
Non, Rien De Rien, Non, Je Ne Regrette Rien
Ni Le Bien Qu`on M`a Fait, Ni Le Mal
Tout Ca M`est Bien Egal
Non, Rien De Rien, Non, Je Ne Regrette Rien
Car Ma Vie, Car Me Joies
Aujourd`hui Ca Commence Avec Toi Non Je Ne Regrette Rien
Até o dia em que a tua vida ocupa a tela do cinema
- Ainda não entendo muito bem Marcela. Não gostei da forma como ela agiu . Ainda que estivesse doente, teve uma atitude arrogante. Ele queria ficar ao lado dela... Só isso...
DEZ DE JULHO (2006)
[ a voz de um fígado]
------------ Não foi sempre esse deboche e eu não fui sempre tão sério, mas eu estava sério porque não estava mentindo, porque eu ardia e mergulhava naquilo que eu estava sentindo e que a muito custo- SIM, É PRECISO QUE EU REVELE – me custava muito poder me entregar, assim, INTEIRO, com portas e janelas escancaradas, mostrar o eu escondido ou aquela parte que existe na gente sem raciocício, sentindo sem pontuação- ilógica e desordenada- que não tem começo muito menos fim... sombra e balburdio... e eu mostrei a você tudo isso... que nem a mim mesmo eu tinha coragem suficiente para. Que me encabulava tanto,eu tenho tanta vergonha de ser como eu sou. E eu fui mais do que eu costumeiramente sou, porque desmascarado, e isso me custou muito esforço...
Não te culpo por nada, não se culpe também... devagarzinho vai subindo um sono sonso e vou pensando que o que quero muito é me enrolar neste cobertor-que-me-esquenta-e-protege, e fechar meus olhos de “retinas fatigadas” (como aqueles que viram pedras no meio do caminho e nunca se esquecerão deste acontecimento) e dormir a tarde inteira, o resto da vida toda, ou me acordar e sentir que ainda tenho alguma certeza... que eu sei de alguma coisa qualquer que me é vaga- e que essa certeza me faça sentir vivo, pulsando, respirando sem esse aperto que vai sufocando aqui na garganta, no peito...
Olho pra essa gente toda, esse amontoado de seres que formam esse aglomerado que convencionalmente chamam humanidade e sinto ânsia de vômito ( seria só pela ressaca ? ) e quero num desespero que me golpeia os pulmões cotidianamente me distinguir deles todos, ser uma outra coisa que não humano. Porque eles me dão asco, medo, pena...e eles são um conjunto de ratos sujos, perversos e burros . Não sabem de sua condição de rato, não sabem que são só matéria apodrecendo a olhos vistos, que estão acabando, acabando, acabados.
Paro de escrever por um tempo.
Lembro da maldição da bruxa.A cidade madrugando e ela toda de preto, à beira do Guaíba, os cabelos soltos, remexidos pelo vento, dançando e apontando pra mim - para nós - e gritando : “EU TE AMALDIÇOO” e eu continuando a olhar pra ela e pensando “ por quê?” [...]
Eu teria decido até lá e quebrado todos os ossos daquela desgraçada. Arrancado os dentes, perfurado os olhos. Mas eu estava tão contente, eu estava ainda tão feliz... Você não percebe esta felicidade em mim? Como? É, eu sei, eu disse a você que você não percebe quase nada... ou percebe as coisas de uma maneira equivocada. Eu pude perceber isso quando você me conheceu e disse “ Como um guri tão bonito pode ser tão triste?” E eu fiquei quieto, não te corrigi o engodo, pois precisava ouvir alguém dizer que me achava bonito, mesmo que eu não acreditasse nisso, por me olhar todos os dias - bem de perto - no espelho.
E em cada passo que dávamos no asfalto poluído e quanto mais a tempestade nos alcançava –as tempestades surgem depois do calor escaldante- e nos perdíamos e não chegávamos a um lugar seguro, começava a me dar um aperto e um medo –no osso do peito- porque de repente eu pensei que nós nunca ,nunca, nunca mesmo conseguiríamos chegar onde pretendíamos. E veio um arrependimento, porque eu pensei nas noites em que eu ficava em casa, seguro, trancado no meu quarto, sem querer falar com ninguém. E comecei a rir muito, porque, subitamente dei-me conta de que estava exatamente onde queria estar (como a frase de Brilho Eterno de uma mente sem Lembranças). E que eu estava feliz. Muito feliz. Era eu mesmo outra vez, depois de tantos simulacros, respirando molhado, tomado de frio, todo sujo, todo vivo. Eu estava SENDO.
[ Plexus, A crucificação encarnada. Henry Miller]
São Leopoldo, 11 de julho de 2007.
Mariano,
Escrevo esta carta-em-movimento. Estou no trem, mas me sinto paralisado. Estancado. Um recorte retangular de sol me aquece, de leve. Lembro de outro sol; esse mais vivo, quase ofuscante que rebrilhava em outro vagão, em outro tempo... lembro que escrevi- ou pensei- que os olhos humanos não são feitos para tanta luz... ninguém suporta tanta luz. Era outro trem, outra estação: dois de novembro. E, agora, enfrento o inverno de frio mais dilacerante de toda a minha vida. O vento vai com volúpia me arrastando, gelando meus ossos, músculos e alma. Ainda estou distante do fim da linha, contudo, temo que certas viagens, estão encerradas para mim...
Não vou me preocupar com nada ao escrever esta carta. A preocupação estética-artística é falsete e eu quero essa carta com poros abertos, com olheiras negras, sem maquiagem ou pudor... Isso parece simples? Não é. Não acredito que existam coisas simples, o que existe é uma visão simplificada e redutora das coisas. E, escrever com verdade –não se deixar levar pelo fluxo sonoro das palavras ou usar aquelas que imprecisamente contam o que se quer dizer- é muito difícil. Exige muita humildade- quem sabe até humilhação. Mas o que seria pra mim, meu amigo, mais uma humilhação? Logo eu , que experimentei as mais amargas e ardentes humilhações que alguém pode pretender provar? ( E, não pense que faço ficção, bem gostaria de te contar uma mentira bonita, pra te fazer sorrir).
Quero te contar que hoje novamente não fui desprezado pelo desespero. Sim, ele me ama, amante eterno que vem – todos os dias- me ver, me possuir, me cravar dentes duros no peito.
Tudo o que eu esperava da vida descumpriu-se prontamente e com pressa. Desconstrui todos os sentimentos e encardi meus cinco sentidos de cem mil formas.Já não sei definir o que sinto com os habituais nomes... é tudo tão confuso, mesclado, híbrido, quebrável, movediço... Amodeio tudo que tive e não detive. O indelével tão transitório, escapável. (Mas, recorrendo a um lugar-comum-terrívelmente insubstituível, sempre achei deprimente aquelas borboletas fixadas mortas em moldura de vidro). Os verbos da minha vida foram todos vis, intransitivos, incompletos.
Acho que estou doente, e isso que move esse texto.Não. Não vou morrer, mas apodrecer vivo como vaso-ruim-que-não-quebra-fácil-mas-racha... é dessas rachaduras duras que eu quero te falar... é por elas que entra esse vento ( tão frio, tão forte)... Você sabe que uma árvore nunca morre do mesmo modo como morre um ser humano... assim, instantaneamente... Não, uma árvore, por mais lacerada que esteja, seca aos poucos, lentamente... nós , humanos, passamos por elas e as imaginamos vivas.... e elas lá agonizantes, mas de fuste ereto. Podres e de pé.Com uma vida virtual. Eu ia dizer que me sinto como uma dessas árvores: pura metáfora canastrona. Sou a própria árvore de casca sã e de cerne, seivas –bruta e elaborada – putrefatos.
Espero que tenha encontrado em São Paulo um ponto alto pros teus sonhos, um corpo aberto pros teus sorrisos, e estímulos para tuas fotografias.
Bilhetinho Azul (Cazuza)
o meu amor foi embora e só deixou pra mim
um bilhetinho todo azul com seus garranchos
Que dizia assim "Chuchu vou me mandar!
"é eu vou pra Bahia (pra bahia) talvez volte qualquer dia
o certo é que eu tô vivendo eu tô tentando Uuu!!!
Nosso amor, foi um engano
Hoje eu acordei com sono e sem vontade de acordar
inconsequente e ainda amar,
ver o amor como um abraço curto pra não sufocar
quinta-feira, 1 de maio de 2008
embanado e banal
Das páginas mutiladas, múltiplas palavras (destroçadas abruptamente de significado)
gritavam marginal e virginalmente bagunças/ corrompidas, misturadas...
eram elas o reflexo da minha alma. Chafurdada em lama de incompreensão, ignorância, incongruência.
Ri. E meu riso foi o reverso perverso do que senti.
insolúvel-incabidamente cômico
quero-os vivos
mesmo que prestes a morrer
mesmo que não prestem pra viver
Não quero troféus
ou medalhas
prefiro teus pés
tuas migalhas.
junho de 2007
Hermam Hesse, O Lobo da Estepe.
Todos os dias aprendo a esperar. É meu dever e minha punição... Certas esperas são tenebrosas.. te guiam ao nada, condutoras do vácuo... Não recuo nem nas mais árduas esperas. Fico até o fim. Enfim, quando ele chega já nem sei o que se fez de mim... O que me tomou, o que me tomaram...
Até as festas acabam desabando. E, se alguém olhar bem - quase ninguém olha -, em meio às paredes derruídas, sempre há uma criança de olhos sanguíneos que chora, chora calada num canto, agarrada ao ar que lhe confere uma capa de in-vi-si-bi-li-da-de.
O fim dá medo e entretanto é imprescindível para começos. Porque estou vivo agora, sem luz de razão aqui-acordado enquanto a tranquilidade abraça "os justos". Porque esta ironia na minha voz que de vez canta por mim ?