Era a imitação da vida
Com paredes falsas
O coração batendo na tomada
(Imitação da vida. Tom Bloch)
ó espelho!
Água fria pelo tédio em teu caxilho gelada
Quantas vezes e durante horas, desolada
Dos sonhos e buscando minhas lembranças, que são
Como folhas sob teu gelo no oco profundo,
Em ti eu me vi como uma sombra distante
Mas, horror! Algumas noites, em tua severa fonte,
De meu sonho esparso conheci a nudez!
( Stéphane Mallarmé, Hérodiade)
A beleza esgotou-se em mim. De viço seco, só de vício vivo me reencontrei. Como se, novamente, ganhasse pele e leveza de chumbo e chama. Chagas.
... e não mais tive medo. Assumi meus infernos e feras internos, inteiros. [...] tive coragem. Muita coragem de matar em mim o que feria. O que me fazia. Mas a liberdade pode ser perigosa.
É quase como o momento que antecede um suicídio. Um assassinato. Só que freqüente.
Mas a liberdade é perigosa, por isso é mais fácil a prisão. É uma busca solitária, a minha. De pálpebras pesadas, de estímulos e preâmbulos muito particulares. Idiotas. Extingui de mim extintores e indicações. Poderiam dizer que me conformei louco. Não é mais importante, nem elogioso. Sei que estou (sou) em essência; contraditório e inteligível, sendo maximamente simples. Quase óbvio.
E por que não minto (apenas o inescapável) não mais fujo de mim. Abandonei o tablado e as grandes palmas.
[com a dor da despedida de quem aprendeu que a vida é representação em fluxo ininterrupto]
Não nutro cóleras, tampouco procuro asfixiá-las.
Reconheço-as.
São minhas.
E olhei para mim no espelho – para olheiras e manchas minhas – e vi, intrínsecas, toda violência e virtude possíveis. Complementares comendo-se. Sei que não sou importante ou especial.
Recusar prisões tem um preço. Mas o inconseqüente é que nasci apaixonado pela liberdade.
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