... ela me perguntou:
- Não vai mais escrever, guri ?
E eu respondi: "Quero voltar a escrever, sim, sem pensar em ser lido, ou julgado".
Ser inventado, me incomoda, embora.
Quero voltar a escrever. Estou no centro de mim mesmo, sentado, pensando. Tenho ficado dias e dias só pensando, pensando, pensando ... Não quero que as palavras me traiam, ou distraiam... quero escrever uma vez mais sem medo das palavras. Mas sem qualquer arrogante coragem. Sem furtar. Ou furar contentamentos. Arsenal de polpudas palavras a semear verdades.
Que não inventariem! Que não inventem! Que ventem!
- Parei de escrever para me esconder, me calar. Me censurar. Agradar. Mas não sei camuflar. Sei flamar. Sou um crime em potencial.
Ainda não decidi tomar decisões. Cisões cirúrgicas me fariam sorrir, ou morrer... Não sou dramático, Uilian. Ou sou ? Acho que apenas sou.
Querido canalha, te odeio com amor. Iramor. Queria meus olhos de vidro? De minha parte, tenho só meus olhos orgânicos, oblíquos. Quase vesgos. Vivos. Quando eu era pequeno, vi os olhos de um cachorro vidrados, baços. Prestes a morrer. E o peguei nos braços. É porque a vida dele se esvaiu diante de mim.
Não terei mais dique moral contentor. Sou um manso maremoto. Um imenso repertório. Um irrisório.
As palavras podem ter um peso leve e específico. Sem o fulgor do fantástico. Por que a realidade é fantástica. É inverossímel. Só a ficção é crível.
Passeio pelo cemitério ruidoso do meu passado lanhoso. Falam de amor e dor como algo vergonhoso. Vergonhoso não é não ser amado, é não amar.
Não.
Não é vergonhoso não amar.
Nada é vergonhoso.
A noite parece me coroar. Com sua eternidade de feitiço. Com seu feitio moço.Viço viciante.
Não estou oco, mas não sei me explicar. Não quero o explícito. Mas não produzirei brumas. Quero apenas apreciar com prazer a beleza fútil, tão útil, atual, pontual.
Atingindo-me certeira. Como um tiro.
À queima-roupa? Sim, à queima-roupa.
Decepei minhas decepções e desejos indesejáveis. De viés me vejo. Beijo.
Preciso de últimas gotas de desmedida.
Meus amigos me acompanham. E, como os amo. Sou inevitávelmente solitário, como todos que existem. Que sabem que estão vivos. E que não são animais. No entanto, o tempo compartilhado com eles se enrijece em erupção de acalento. Ando com amor dentro de mim, e também por fora. Infestado de amor, como um orgasmo contínuo em caminho contrário, me embasbacando.
Amo viver, mas uma morte clara, refulgente, tosca, me faria feliz.
Caso eu amanheça morto; saibam, não se esqueçam. Disso:
Nenhum comentário:
Postar um comentário