Quando conheci o Carlos, eu estava imerso em um período de intensa liberdade existencial. De esquartejar limites. De me aventurar por lugares incomuns. Estava convicto que a vida tinha uma batida- louca bem distanciada das convenções. Tão simplórias e entediantes. Sabia que as cores do meu universo seriam diversas das cores de outros. Eu teria o poder e o pudor de respeitar o meu " destino".
Nunca mais fui tão pleno como naquele verão de incêndios.
Ficamos (Carlos e eu) entre as paredes do quarto dele, nus, de sábado até segunda... No mesmo verão, conheci o Kalil, antes, no entanto... penso nele(s) até hoje.
A saudade tem umas regras próprias. A saudade é criativa. A saudade esmaga negativos.
Kalil e Carlos, onde vocês estejam, saibam: verão como aquele, não se verá mais.
"Terça-feira:
Evitar mentiras meigas
Enfrentar taras obscuras
Amar de pau duro"
Querido Diário (Tópicos para uma semana utópica)
Cazuza
" Vou falar-lhe de segredos de
famíla, essa sagrada instituição que pretende incutir
virtude em selvagens. Repita o que vou dizer: sagrada
família, teto de bons cidadãos. Diga! As crianças são
torturadas até mentirem. A vontade é esmagada pela
repressão. A liberdade é assassinada pelo egoísmo. Família,
porra de família!"
"Último Tango em Paris", dir. Bernardo Bertolucci
No meu caminho, havia o descaminho tratado à trote pelo destino (como trote do destino). Foi no descaminho que nos pexamos- entre choque de ramos de espécies exóticas (entre si) exalando estranhamento e atração.
Teu olho brilhou focado no meu, magnetizando meu corpo, caçando meus sentidos, entorpecendo meu espírito.
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Revirando-me por dentro
você foi se aproximando
apalpando
com tua presença
cada vez mais perto...
fiquei esfolado, com gula da tua saliva
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Fora de mim,
a música vibrava e corpos estranhos e anônimos contorciam-se -figurantes sem figura definida- no balanço cansado das luzes coloridas. Girando, promíscuas.
Gemeu em mim um estalido, e hipnotizado, rompi bruscamente com a minha dança. Como criança ganhando presente novo, fiquei parado, no meu canto, encantado.
Catei, com a mão, o copo de cerveja e, com sofreguidão, sorvi a bebida como se fosse um ermitão no meio do deserto, tomando uma miragem.
Foi então que você veio se aproximanto- diminuindo -gradativamente- a- distância (curta? longa?) que nos apartava. Nesse trajeto, que durou segundos, mas que transcorreu como se fosse registrado em câmera lenta, você foi apalpando algo de mim ao mesmo tempo em que apertava no brim da minha calça o excitamtento pela tua presença. forte. cada vez mais perto de mim.
teus olhos brilharam no escuro como relâmpagos em noites de tempestade. Infestado pelo teu fulgor senti medo e paz. E um breve conforto- frágil e oscilante; ágil e enebriante.
Irresisti ao teu convite/ porque coçava em mima vontade vasta de sentir o calor do teu corpo. " De tocar meu corpo de homem no teu corpo rijo de homem" . De ganhar vida com o contato macio da tua língua incitando-me a um cio de você. De sentir meu pau endurecer ao teu toque...
Me entreguei de cabeça, pronto ao teu sequestro. Desaqueci o racional e fui recebendo o mundo reverberativo do gozo, da emoção, da paixão. Parei de pensar e comecei apenas a sentir tudo através da minha glande vermelha , estourando de tesão.
Me atacando pelas vértebras, degustei de casa instante do teu toque instável.
OS ESCRÚPULOS DO MUNDO PODRES, ESGOTADOS. DESGOSTOSOS.
Ainda um pouco bêbado, mas mais embebido pela tua ereção, fui sentindo o teu corpo liso subindo sobre o meu. o calor da tua vara estendida pulsando reta em minha direção. cerrei os olhos subitamente e passei olhar pela ponta dos dedos... era por elas que eu sentia tua pele, teus pelos, teu calor... como uma mosca que enxerga em várias direções....
músculos e fibras
tua barba maltratando a minha recém-raspada,
e eu
nem me importando
com cada irritação que crescia (eu sabia) pois assim teria uma lembrança tua...
mais elástica , não tão efêmera
que me interessava, mesmo se ferisse a minha face, e me fizesse mais feio.
" A vida quase nos intoxica. Mas é mesmo assim. Outra forma é deformação. Deturpação. Ao menos, para mais, para mim. "
" Não há vergonha ou orgulho nas minhas confissões. Há a vida que eu vivi, somente."
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