sexta-feira, 25 de abril de 2008

Charlies, não sou lírico aqui

olha pra dentro de mim,

quero que tu vejas isso

só a ti, ouso mostrar,




(audaciosa falácia tentar,

guri solar que adentra sombras densas)







isso:


têm resplandecências, transparências,

há também respirações asfixiadas,

convulsões provocadas,

suicídios inacabados,




paixão doente expandindo-se



afagos magos- magros

mágoas de mãos dadas com sarcasmos

as ironias irônicas disfarçando tudo ... t u d o

intubações, entonações, artificialismos,


os inominados se contaminando pelo léxico impositivo, fascista



- por baixo da pele, os ossos

brancos, tão brancos ossos
rijos, impermeáveis

quebram também, bata com força pra ver


quem me roubou o copo? ou seria correto perguntar: quem roubou meu corpo?


um estranho habita o meu corpo.





queria ao menos poder me ver, antes de mostrar a ti, compreende? A quem mais eu dei tanto? A ti, porque só a ti revelei o recôndito meu, difuso, embaralhado, embrulhado.







como posso saber quem eu sou, se ainda estou sendo? se ainda não fui?


- corto esta carta com um sorriso aberto. parto.





Todo nascimento se faz com dor, pra que tanta anestesia? Não preferimos a estética?





eu disse:




Quero que doa, sim; pra parar de doer isso de-dentro, de sempre.



E entretanto, estou quase tranquilo.

[mas essa brevidade se racha, por que pressinto que não serei entendido plenamente- babel descabelada essa- queria ao menos ser mais simples... comunicar melhor meus compartimentos, há diversão e subversão nisso tudo também, não sou tão folhetinescamente dramático... além da minha caricatura é que existo... por detrás dela é que estou. vou sendo. há tanta verdade nos meus sentimentos contraditórios, contrastantes. Trastes. Transito em transe]


Fico as vezes com uma expressão absorta, me solto do mundo... Disseram-me uma vez:


- Tu é estranho, não sei se é ingênuo ou só quieto mesmo.


É que eu estava sentindo, sabe? Só sentindo. Sentindo só. Os sentidos bem abertos, bem amplos, receptivos. Estava sendo sincero, me desfazendo de frases de outros, de citações, dessas evasões ... fico parecendo meio louco, quando fico assim, talvez seja mesmo... como a minha bisavó louca, abandonada em um hospício ... que solidão ela deve ter sentido,não? Com um pedaço de pau, ela batia nos filhos... teve tantos... os últimos, gêmeos, nasceram mortos- ou morreram depois, não lembro... e ela não suportou... seria semelhante a mim, ela? grave nos sentimentos, nas sensações? (uma bisavó poéticamente doida, um orgulho que tenho)



-Devo te temer? olha a tua pergunta. É descabida!
Não, não deve. De coração, de rim, de cérebro, repito.


Estralhaçaria meu rosto em várias fatias e jogaria os bifes aos cães antes disso. Aos cães sarnentos que tanto eu amo.Ou temo.



- Não, mesmo os cães ferozes não me dão mais medo.


Aquele barco tremendo sob os volumes volúveis da água... não, advertem vozes bondosas, plenas de amor por mim, não ... está rachado! e eu ouço, mas quero estar lá
- estourar lá-; mesmo que depois o sal me afogue... um segundo lá e me bastaria - toda a minha existência justificada...

Corro pegar uma maçã.. Minha mãe diz:

- Meu filho, de pés descalços... está tudo tão sujo!

Sim, mãezinha, está tudo podre de sujo, eu sei. Mas é assim mesmo, não é? Desde o sempre. Agüente isso, mãe, andamos todos cheios de merda no bucho. Ainda tentas, inocente, mãe, a perfeição, mas não há; é ilusão... ando sim sem proteções, sou desses que se sujam às vezes. Bebo verdades, atrofio-me via mentiras. E a vida me aparece bem bruta, sanguinolenta.

Vermelho-sangue. Quero isso, ainda que seja eu calmo. Lembro agora dela falando “não me beije tão forte, meus lábios vão verter sangue desse jeito” ... o que me excitava mais ainda, bem mais...

Nenhum comentário: